Este artigo surgiu como conseqüência de um QSO, em que um colega radioamador se mostrava preocupado com possíveis conseqüências à saúde dele próprio e dos seus familiares, por estar operando na banda de 40 m com uma antena dipolo interna estendida dentro de um apartamento. A preocupação levou este colega a estudar profundamente o assunto, mas para seu desagrado, não havia obtido sucesso em estabelecer uma conclusão. Trabalhos acadêmicos áridos (quase sempre o são) levaram o colega a caminhos teóricos tortuosos, chegando inclusive aos mistérios da Física Quântica. Os estudos que realizou por conta própria o levaram a maior dúvida do que já tinha, pois há muita contradição em jogo.A discussão não é nova. Há aqueles que acreditam que a radiofreqüência faz mal à saúde, e há aqueles que não encontram motivos para temê-la. É evidente que estamos aqui falando em radiação, ou seja, oscilações de alta freqüência se propagando no espaço como onda eletromagnética. Sem sombra de dúvidas que uma descarga direta de corrente elétrica de intensidade apreciável pode causar grandes danos à saúde, seja esta corrente elétrica contínua ou alternada, de baixa ou de alta freqüência.Dessa maneira, é necessário separar a análise do problema para ambas as diferentes condições. Quando se toma um choque elétrico, o corpo age como um condutor por onde efetivamente flui uma corrente elétrica do maior potencial elétrico para o menor potencial elétrico. A quantidade de corrente que circula pelo corpo, ou pelo trecho do corpo que perfaz o caminho da corrente elétrica é definida pela clássica Lei de Ohm:RVi =No caso do choque elétrico, a quantidade de corrente i medida na unidade Ampere (A), definida pela expressão matemática da Lei de Ohm é dependente da diferença de potencial elétrico V (“voltagem”) medida pela unidade Volt (V) e pela resistência elétrica R medida na unidade Ohm (Ω) e imposta pelo material condutor no caminho da corrente. A resistência elétrica dos tecidos e órgãos do corpo humano é alta, da ordem de Megohm (MΩ). Dessa maneira, para valores considerados corriqueiros de diferença de potencial, a corrente circulante é da ordem de microAmpere (µA), podendo se aproximar da ordem de grandeza miliAmpere (mA) em determinadas situações. Assim, tocar nos contatos de uma bateria automotiva de 12V (diferença de potencial ou voltagem) faz com que o corpo conduza uma corrente elétrica muito pequena, tão desprezível que não produz efeitos fisiológicos perceptíveis, nem sensações desagradáveis.As sensações desagradáveis provocadas pela passagem da corrente elétrica pelo corpo aparecem para voltagens da ordem de 50V, e este valor é muito variável para baixo e para cima. Há pessoas que são mais suscetíveis à passagem da corrente elétrica pelo corpo, podendo sentir a desagradável sensação do choque elétrico para voltagens tão pequenas quanto 20V, mas há pessoas que apresentam sensibilidade menor, começando a sentir as sensações do choque elétrico apenas a partir de uns 80V. Para uma dada pessoa, este valor de limiar de sensação também se altera em função da hidratação do organismo. Um organismo desidratado conduz bem menos do que um organismo bem hidratado. Dessa maneira, o estado geral de saúde da pessoa no momento de um choque elétrico influencia na quantidade de corrente circulante, por influenciar significativamente o valor da resistência elétrica.As desagradáveis sensações do choque elétrico são de menor importância quando comparados aos danos que a corrente elétrica pode provocar nos tecidos e órgãos do corpo. Uma corrente elétrica sempre desloca cargas elétricas, pois é o movimento de cargas elétricas o constituinte da corrente. Um condutor metálico em seu estado físico sólido permite apenas o deslocamento dos elétrons, que são muito pequenos e possuidores de minúscula massa. A inércia do núcleo atômico é muito grande para que sofra algum abalo expressivo frente à presença do campo elétrico, causador da “voltagem”. Entretanto, corpos biológicos não se encontram em estado sólido como os metais. A constituição biológica impõe a necessidade de maleabilidade e ausência de reticulados cristalinos presentes nos sólidos. A plasticidade de um organismo vivo é causada pela presença de moléculas orgânicas plásticas e sais diluídos em água. Logo, num organismo vivo, os condutores elétricos são íons. Os íons podem ser positivos (cátions) como num radical Na+ resultante da dissolução do sal de cozinha (Cloreto de Sódio) ou de ânions negativos como no radical Cl-, também dissolvido do sal de cozinha. No organismo vivo praticamente não há elétrons livres como nos metais, mas radicais livres, que são átomos ou conjunto de átomos praticamente inteiros. Os radicais livres possuem a mesma inércia (até ligeiramente maior) do que os núcleos atômicos, e exigem mais excitação para se movimentarem. Possivelmente seja a movimentação destes radicais iônicos a causa da sensação do choque elétrico.Se a corrente elétrica circulante no interior de um ser vivo for muito intensa, também intensa será a movimentação dos radicais iônicos. Correntes elétricas intensas provocam um efeito semelhante a uma “avalanche” dentro do organismo, com conseqüências desastrosas, por ser um fenômeno destrutivo. A destruição é metade elétrica (os seres vivos são sistemas elétricos delicados e complexos) e metade mecânica (os tecidos são estruturas complexas e também delicadas). O efeito de avalanche iônica pode ser intenso o suficiente para provocar a morte do ser vivo. Dessa maneira, a recomendação é sempre a mesma: evite o mais que puder levar um choque elétrico, pois a conseqüência só será conhecida após o episódio. O choque elétrico causado pelo inadvertido contato com uma antena de transmissão em operação é um episódio doloroso, pois a avalanche provocada pela corrente alternada de alta freqüência produz evaporação de água dos tecidos da pele e conseqüente cauterização do local.As radiaçõesAgora a situação é outra. Uma radiação não interage com corpos em seu caminho da mesma maneira que age uma corrente elétrica. Uma radiação, dentro do modelo Clássico da Física, é interpretado como onda viajante que percorre o espaço livre. O efeito produzido em algum corpo capaz de conduzir a corrente elétrica se dá pelo fenômeno de indução eletromagnética. A indução é um fenômeno de interação que independe de contato físico e se realiza por meio de algum campo. Conhecemos hoje a existência dos campos gravitacional, magnético, elétrico e eletromagnético, e assim, a existência das interações correspondentes: gravitacional, magnética, elétrica e eletromagnética.É muito difícil, se não impossível, descrever o que vem a ser um “campo”. O melhor que podemos fazer é conhecer suas propriedades e utilizá-las de modo inteligente. Massa (matéria) produz em sua volta um campo, que denominamos gravitacional. Uma carga elétrica produz à sua volta um campo elétrico, um dipolo magnético (par de localizações Norte e Sul) produz em sua zona de ação um campo magnético enquanto um campo eletromagnético é produzido por cargas elétricas que se movimentam com velocidades variáveis. A melhor definição que já tive oportunidade de ouvir veio das palavras de um aluno de ensino médio, com cerca de 16 anos de idade: “campo é como um perfume que uma entidade física espalha ao seu redor para permitir sua identificação”. Brilhante!Fisicamente percebemos que os diferentes campos cumprem a função de armazenar energia. Modificações nas intensidades de um campo ou mudança de local espacial dentro de um campo envolvem a modificação de valores de energia. Dessa maneira, usamos os campos para manipular energia, e deste modo realizarmos trabalho, um inestimável benefício tecnológico. Os campos gravitacional, elétrico e magnético são campos armazenadores de energia. A energia não se move nestes campos, o que se move são as entidades físicas dentro dele: massa, carga elétrica e dipolos magnéticos. Assim, corpos caem dentro de campos gravitacionais, devolvendo ao campo a energia que tinham. Cargas elétricas se movem dentro de campos elétricos devolvendo a energia que tinham. Da mesma maneira, dipolos magnéticos se movem dentro de campos magnéticos devolvendo a energia que tinham. Em resumo: entidades físicas se movem dentro dos campos acumulando ou devolvendo energia. Os artefatos tecnológicos mais simples e comuns que usam tal princípio são a caixa d’água (gravitacional), capacitor (elétrico) e indutor (magnético).A única exceção à brilhante percepção do aluno reside no campo eletromagnético, pois um campo gravitacional se move transportando energia. Um campo eletromagnético é móvel e se move dentro de um meio de propagação com velocidade característica permitida pela natureza do meio. Nada mais se move juntamente com o campo eletromagnético, apenas ele próprio. O modelo de pensamento que nos permite estudar e manipular um campo eletromagnético (portanto manipular sua energia) é o modelo de onda. As expressões energia eletromagnética e onda eletromagnética, sem bem que diferentes em natureza são usados indistintamente para descrever o fenômeno. Como a luz é um campo eletromagnético, a velocidade de propagação de um campo eletromagnético em um determinado meio é denominada velocidade da luz dentro do meio de propagação em questão.Quando um campo eletromagnético é interceptado em seu caminho de propagação por um corpo físico, poderá haver uma interação que resultará na produção de movimento das cargas elétricas presentes no corpo “interceptador”. A movimentação das cargas elétricas induzidas possuirá as mesmas características da movimentação de alta freqüência das cargas elétricas que produziram o campo: movimento também oscilatório (com mudanças de velocidades) numa freqüência exatamente igual à freqüência de oscilação das cargas produtoras do campo. Devido à distância e conseqüente diminuição da intensidade do campo eletromagnético em seu percurso de propagação, a intensidade do movimento das cargas elétricas induzidas será forçosamente menor do que a intensidade do movimento das cargas elétricas indutoras, mas a “figura” da dança será rigorosamente a mesma. È por meio desta característica que se torna possível uma transmissão e recepção de sinais radioelétricos portadores de informação como elementos fundamentais das telecomunicações.Efeitos fisiológicos de uma radiaçãoQuando uma onda eletromagnética encontra um organismo vivo pelo caminho, tentará, evidentemente, induzir movimento nas cargas elétricas dentro do corpo do organismo vivo. A reação do organismo vivo frente à excitação da energia radiante dependerá dos seguintes fatores: freqüência e intensidade do campo eletromagnético e natureza do material constituinte do corpo. Um organismo vivo é formado por tecidos e órgãos constituídos por moléculas orgânicas plásticas e radicais iônicos. Moléculas orgânicas estão presentes, por exemplo, na constituição das gorduras e paredes celulares. O sucesso da indução de movimento destes constituintes moleculares e iônicos então depende também da natureza, forma e dimensões das diferentes estruturas orgânicas e iônicas do ser vivo.Quando há um desequilibro espacial de cargas elétricas numa determinada região do espaço, formam-se dipolos elétricos. Uma substância química com desequilibro espacial é denominada polar e se comporta como um dipolo elétrico, semelhante a uma pilha elétrica (terminais marcados como “+” e “-“). Uma molécula orgânica é geralmente apolar, significando que as cargas elétricas dos muitos átomos constituintes (Carbono, Hidrogênio, Oxigênio e Nitrogênio como constituintes quase exclusivos) encontram-se dispostas de forma que não resulte um desequilibro espacial das cargas. Uma estrutura física perfeitamente apolar não é susceptível a induções, magnética, elétrica ou eletromagnética, pois o campo não “enxerga” um outro campo para entregar energia. Outro fator que define a possibilidade ou impossibilidade de indução por campo em uma estrutura física é a relação entre as dimensões do comprimento de onda e as dimensões geométricas do sistema. Uma molécula orgânica pode ser completamente apolar, levemente apolar ou possuir polaridade trópica quando excitada por um campo de comprimento de onda pequeno quando comparado às dimensões moleculares. A polaridade trópica, sempre levemente polar, é dependente da posição da molécula frente à direção da excitação elétrica ou eletromagnética.Por causa da natureza tipicamente apolar das moléculas orgânicas presentes nos seres vivos, a indução de movimento de cargas elétricas por parte de uma radiação eletromagnética se torna muito dificultada. Alie-se a isso o fato das moléculas orgânicas serem sempre grandes, formadas por dezenas ou até centenas de átomos (C, H, O, N), o que resulta em uma massa significativa e uma inércia muito grande para “bailar” de acordo com a excitação. Por outro lado, conjuntos de tais moléculas, comportando-se como “clusters” formadores dos tecidos, podem possuir uma freqüência de ressonância muito bem determinada. Qualquer excitação fica muito facilitada em regime de ressonância, e este é o princípio dos osciladores. Esta característica vem sendo muito bem aproveitada como solução tecnológica a serviço da área médica, nos exames de diagnóstico por ressonância magnética. Muitas freqüências de ressonância de tecidos orgânicos são hoje conhecidas. Se um determinado tecido ressonar em freqüência diferente do que se espera, pode sugerir um forte indício de anomalia geométrica ou de constituição nos “clusters” moleculares, causados por tumores, por exemplo. As freqüências de ressonâncias das moléculas de tecidos orgânicos possuem freqüência de ressonância baixa, da ordem de dezenas, centenas ou milhares de Hertz e não são susceptíveis a radiações eletromagnéticas de alta frequência. Moléculas orgânicas, mesmo para excitação em ressonância, exigem que a fonte do campo opere com potência muito elevada, para produzir campos suficientemente intensos para excitá-las, mesmo que levemente. Os ressonadores magnéticos de uso na área de análise médica trabalham com potência de muitos KW, operando exclusivamente com a manipulação de campos magnéticos, fazendo com que sejam bastante caros.Os radicais iônicos apresentam óbvia polaridade, sendo fortemente positivos (cátions) ou fortemente negativos (ânions). Mesmo moléculas não ionizadas podem apresentar polaridade significativa. A água, mesmo sem ter sido dissociada em íons apresenta forte polaridade causada pela sua geometria característica, semelhante a um bumerangue. Havendo polaridade espacial, a excitação em ressonância se torna ainda facilitada, exigindo potências bem menores na movimentação das cargas indutoras de campos eletromagnéticos. A água líquida apresenta ressonância em torno da freqüência de 1.45 GHz. Esta é a freqüência do oscilador de um forno de micro-ondas, que transfere energia em ressonância para as moléculas de água, com potência relativamente baixa, em torno de 1 KW. Os diversos íons que constituem o sistema de condução elétrica do corpo humano possuem massa da mesma ordem de grandeza da massa da molécula de água, e suas freqüências de ressonância podem se situar entre 0,5 GHz e 3 GHz. Não existem muitos estudos sobre as frequências de ressonância destes eletrólitos nos tecidos humanos.Quando uma radiação eletromagnética alcança um corpo físico pelo caminho, poderá ou não lograr a indução das cargas elétricas disponíveis no corpo. Se houver alguma possibilidade de indução, haverá também uma profundidade de alcance desta indução. Na medida em que a energia vai produzindo indução, também vai sendo consumida, de modo que cessa a uma determinada profundidade máxima. Esta profundidade máxima é determinada tanto pela quantidade de energia disponível na radiação eletromagnética quanto pela natureza do corpo.Há também corpos transparentes a determinados comprimentos de onda da radiação. O vidro comum, por exemplo, é transparente aos comprimentos de onda da luz visível, podendo ser absorvente (induzido) por outros comprimentos de onda. A transparência eletromagnética não passa, em última análise, da completa falta de excitação da matéria constituinte do corpo frente a uma determinada radiação eletromagnética.Os efeitos fisiológicos indesejáveis da radiação em um organismo vivo dependem fortemente do comprimento de onda da radiação eletromagnética e da potência transportada pelo campo eletromagnético. Os efeitos podem ser tão benéficos como a síntese da vitamina D produzida por radiação solar moderada ou tão maléficos como a quebra de uma informação genética presente nas bases de aminoácidos do DNA e RNA. Os efeitos são muito variados e dependentes das naturezas moleculares e também do comprimento de onda e potência da radiação eletromagnética. Muito se avançou nos estudos dos efeitos fisiológicos das radiações, mas há muito mais ainda a fazer. Para algumas situações específicas ainda não estudadas ou alvos de estudos superficiais, resta medo e controvérsias.Radiações que efetivamente podem causar malTodas as radiações denominadas ionizantes são potencialmente maléficas. Radiações ionizantes são aquelas que possuem comprimento de onda muito curto, isto é, menores que os comprimentos de onda da luz visível. Assim, estão enquadradas como radiações ionizantes aquelas denominadas ultravioleta, raios-x, raios gama e raios cósmicos. Os comprimentos de onda destas radiações são menores que 380 nm (nanômetro), que é o comprimento de onda limite da luz visível que denominamos “violeta”. Um nanômetro corresponde a 1/1.000.000.000 de metro e é uma medida muito pequena. Como se pode perceber, radiações ionizantes apresentam comprimentos de onda diminutos, muito menores que os comprimentos de onda de radiação eletromagnética de ondas de rádio, situadas entre 10.000 m (30 KHz) e 1 mm (300 GHz). Tais comprimentos de onda são denominados ionizantes pois de fato ocorre ionização de moléculas que a elas sejam submetidas. A ionização separa uma molécula eletricamente neutra em partes eletricamente desequilibradas, ou íons. Como os comprimentos de onda das radiações ionizantes são muito pequenos, são capazes de induzir ionização até mesmo sobre moléculas orgânicas apolares. Uma radiação ionizante se comporta como uma tesoura que quebra ligações químicas covalentes ou ligações físicas de pontes eletrônicas (pontes de oxigênio e hidrogênio, na sua maioria). Assim como há tesouras muito afiadas, há tesouras cegas e sem fio, de modo que uma radiação ionizante necessita também apresentar uma quantidade mínima de potência para realizar o trabalho de ionização de uma molécula.As induções eletromagnéticas das radiações ionizantes quando bem sucedidas nas moléculas dos seres vivos podem causar males graves, que incluem tumores e mutações genéticas, pois podem penetrar profundamente no organismo do ser vivo e deslocar seqüências genéticas presentes nas bases de aminoácidos no interior das células. Se a célula atingida pelo deslocamento das informações do DNA ou RNA for somática, um tumor poderá ser produzido, e cada nova replicação celular daí para frente poderá fazer o tumor crescer em tamanho. Se a célula atingida pelo deslocamento for reprodutiva, então a mutação poderá passar para os descendentes, sem afetar o organismo reprodutor que já está concebido.Não há meios de se garantir estarmos imunes a radiações ionizantes. Radiações no espectro de ultravioleta e raios-x estão presentes na radiação solar que nos atinge todos os dias. Mesmo raios gama e raios cósmicos chegam ao nosso planeta constantemente, oriundos de algum lugar do espaço sideral. Felizmente, a atmosfera da Terra conta com uma rede de proteção razoavelmente eficiente para barrar ou minimizar as intensidades das radiações ionizantes. Radiações no espectro de ultravioleta, por serem menos energéticas, são absorvidas na parte mais externa da atmosfera, ionizando os gases rarefeitos ali presentes e nos brindando com a camada F da ionosfera, que proporciona a desejada propagação de sinais de rádio no espetro de HF. Radiações mais curtas, no espetro de raios-x, são absorvidas numa menor altitude, ionizando a camada D que absorve – infelizmente – os sinais de rádio no espetro de HF. Raios cósmicos são absorvidos apenas a pequenas altitudes, e como ocorrem em pequena intensidade, passam geralmente desapercebidos, pois os efeitos da ionização que provocam são extremamente discretos. Entretanto, não há garantias de que toda a energia ionizante que recebemos do Sol e do espaço exterior seja absorvida pela atmosfera até um nível seguro às nossas saúdes. Como medida de precaução, levamos a sério a recomendação universal de evitar tomar sol nos horários em que esteja mais alto no céu, utilizar protetores solares sempre que houver exposição significativa ou não exceder nos tratamentos estéticos de bronzeamento artificial, que se faz com radiação ultravioleta.O fato de sermos atingidos constantemente por radiação ionizante não nos obriga a apresentarmos algum mal extremo daí decorrente, pois tudo depende da potência da radiação recebida. Um primeiro sintoma de que o organismo esteja sendo alvo de uma radiação ionizante com nível perigoso aparece na forma de queimaduras. Numa queimadura, há destruição celular, pois a indução eletromagnética destrói a célula por completo, provocando o vazamento e evaporação da água presente dentro de cada célula atingida. Uma célula destruída jamais poderá se reproduzir, seja ela somática ou reprodutiva. O perigo representado por radiações ionizantes não está nas queimaduras destruidoras de células, mas na alteração das bases genéticas existentes no interior delas. De qualquer maneira, a queimadura produzida por absorção de energia ionizante deixa um forte indício da possibilidade de alguma célula mais profunda resistir ao ataque e ser modificada geneticamente. No caso de queimaduras provocadas por radiação ionizante, resta o trauma, que será reparado pela regeneração das células destruídas. Se a quantidade de radiação ionizante recebida pelo organismo vivo estiver dentro de limites aceitáveis, nem mesmo queimaduras serão produzidas, e o organismo estará bem protegido. Estudos a respeito estão sendo feitos há décadas e tabelas de tolerâncias têm sido produzidas. Normas são redigidas, novos estudos são efetuados, novas tabelas são produzidas e novas normas ou alteração de normas existentes são apresentadas à sociedade sempre que algum estudo científico mais aprofundado é realizado.Radiações aparentemente inofensivasO espectro de radiação eletromagnética denominado infravermelho é considerado como inofensivo à saúde, e nesta concepção tão simplista reside um enorme perigo. Os comprimentos de onda da radiação infravermelha se situam entre 1 mm e 700 nm, sendo esta última o tamanho do maior comprimento de onda da luz visível denominada “vermelho”. Por todos estudos e pesquisas já realizados, considera-se a radiação infravermelha como não ionizante, e de fato parece ser assim. Considerando que a radiação infravermelha não seja ionizante, que perigo representa? A designação antiga para radiação infravermelha é Calor. Radiação infravermelha e Calor são a mesma coisa, e todo mundo sabe que fogo queima. Mesmo sabendo que a radiação infravermelha não ioniza nossas moléculas orgânicas, sabemos que acima de uma potência ela produz queimaduras. Uma queimadura produzida por radiação infravermelha é idêntica à queimadura provocada por radiação ionizante, pois provoca destruição das células e é um trauma recuperável por regeneração celular, podendo sempre resultar em alguma cicatriz. Uma boa lâmpada de infravermelho utilizada no tratamento de distensões, luxações e dores musculares pode queimar a pele e isto já aconteceu comigo. Resta apenas lembrar que a luz visível tem comprimento maior que a radiação ultravioleta de maior comprimento de onda, e também é não ionizante. Entretanto, sabemos que não podemos olhar por muito tempo para uma fonte de luz visível intensa, pois poderemos ter alguma lesão no fundo do olho, em que o trauma é irrecuperável. O risco não é inerente à Natureza de modo exclusivo. O mau uso de recursos naturais e atitudes indevidas completam o restante dos cenários de desgraças. E a radiofreqüência?Aí reside a grande controvérsia. Muitas pessoas afirmam que sob condições consideradas normais e aceitáveis, os sinais radioelétricos, ou seja, radiação eletromagnética dentro do espectro de 30 KHz a 300 GHz não produzirá mal algum. Há o outro time que afirma o contrário, sendo o câncer o mal mais temido. Como discernir o falso do verdadeiro, o plausível da paranóia? Como saberíamos com certeza que aquela repetidora de telefonia celular móvel que temos ao lado de nossa casa (em torno de 900 MHz) não nos está fazendo mal? Como saber se aquela emissora de radiodifusão em FM no topo do prédio ao lado (cerca de 100 MHz) não está causando males à população? Será verdade que o excesso de uso de aparelho de telefonia celular causa mesmo câncer no cérebro? E nosso colega radioamador que transmite no espectro de rádio de 7 MHz com uma antena dipolo elétrico dentro do apartamento estaria propiciando algum risco a si próprio ou a seus familiares?Este assunto tem que ser desenvolvido com alguma propriedade. Aqui não podem caber “achismos”. Em primeiro lugar, é necessário se verificar qual é a quantidade de energia que um sinal de rádio esteja despejando sobre nosso organismo. Depois é necessário verificar que relação existe entre o valor de energia recebida e os valores normais de energia que estão sempre presentes em nossos organismos. E finalmente, comparar os comprimento de onda considerados com tudo que já se sabe sobre outras radiações. Um estudo assim criterioso pode dar uma base segura de raciocínio, e claro, uma base segura de opinião e tomada de decisão.Um exemplo de estudo criteriosoA medição da potência de uma radiação se faz na unidade Watt por metro quadrado (W/m2). Uma radiação se propaga em todas as direções do espaço em que for permitida, descrevendo uma frente de onda, que ocupa uma área cada vez maior, na medida em que se distancia do ponto onde foi produzida. Para exemplificar, vou considerar uma situação banal nos dias de hoje: uma repetidora de telefonia celular cujas antenas de transmissão com potência irradiada de 10 W se situam a uma altura de 30 m e a irradiação se faz de maneira esférica ou isotrópica. A 30 m de distância, temos uma esfera com superfície:2 2 2300 . 11 30 14 , 3 4 4 m S r S ≅ ⇒ ⋅ ⋅ = = πSe a potência irradiada pela antena for de 10W, então a densidade de potência será:2 4/ 10 8 , 8300 . 1110m W PSW P −⋅ = ⇒ = =A densidade de potência neste caso é menor que 1 mW/m2.Se for considerado que antena tenha alguma diretividade e que seu diagrama de irradiação não seja exatamente esférico, então em algumas direções haverá mais potência irradiada do que em outras direções, como ocorre nos fachos de luz dos faróis de automóveis. Supondo que a antena tenha então um ganho direcional de 6 dB (2 vezes o que seria se fosse um padrão esférico), então o valor máximo a considerar para a densidade de potência é de cerca de 2 mW.Agora é necessário comparar estes 2 mW recebidos pelo organismo de uma pessoa com a quantidade de potência que o organismo humano dissipa no processo de vida. Uma pessoa comum, com algum sedentarismo no estilo de vida necessita de cerca de 1500 Kcal diários de suprimento alimentar. Se comer a mais irá engordar e se menos, emagrecerá. Considerando, de uma maneira grosseira que estas 1500 Kcal sejam consumidos em aproximadamente 18 horas (o restante do tempo para descanso consome pouca energia), então a quantidade de energia consumida por segundo será:s calscalh Kcal / 23600 . 3000 . 83/ 8318500 . 1= ∴ = = ⇒ = ε ε εCada unidade de medida caloria corresponde a aproximadamente 4,2 Joule, uma unidade de medida padronizada no Sistema Internacional, e a quantidade de energia medida na unidade Joule em cada unidade de tempo medida em segundo é Watt (W). Então, a energia consumida por segundo (ou potência) nesta unidade padrão será:W s J s cal 97 / 2 , 4 23 / 23 = ⋅ = = εEntão, podemos interpretar um organismo humano comum como um sistema termodinâmico que apresenta uma potência de trabalho da ordem de 100 W. É evidente que durante intervalos de tempo de intensa atividade física, este valor sobe, para digamos, 300 W. Um atleta pode ser capaz de dissipar potências de até uns 600 W por curto intervalo de tempo. Apenas como comparação, uma unidade de medida “cavalo-vapor” ou “cv” corresponde a pouco mais de 600 W...
PY2IAV – Sávio (Engenheiro e Físico)
05 de Fevereiro de 2.012
Link original: http://www.py3po.com.br/opiniao.php
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